segunda-feira, 16 de junho de 2008

Correspondência de Fradique Mendes

''Chegaramos a uma estação que chamam de Sacavem — e tudo o que os meus olhos arregalados viram do meu paiz, através dos vidros humidos do wagon, foi uma densa treva, d’onde mortiçamente surgiam aqui e além luzinhas remotas e vagas. Eram lanternas de falúas dormindo no rio: — e symbolisavam d’um modo bem humilhante essas escassas e desmaiadas parcellas de verdade positiva que ao homem é dado descobrir no universal Mysterio do Sêr.''

''Restava pagar o batedor. Vim para elle com acerba ironia
— Então, são tres mil reis? Á luz do vestibulo, que me batia a face, o homem sorria. E queha de elle responder, o malandro sem par?
— Aquillo era por dizer... Eu não tinha conhecido o snr. D.Fradique... Lá para o snr. D. Fradique é o que quizer. Humilhação incomparavel! Senti logo não sei que torpe enternecimento que me amollecia o coração. Era a bonacheirice, arelassa fraqueza que nos enlaça a todos nós portuguezes, nos enche de culpada indulgencia uns para os outros, e irremediavelmente estraga entre nós toda a Disciplina e toda a Ordem. Sim, minha cara madrinha... Aquelle bandido conhecia o snr. D. Fradique. Tinha um sorriso bréjeiro e serviçal. Ambos eramos portuguezes. Dei uma libra áquelle bandido! E aqui está, para seu ensino, a veridica maneira porque se entra, no ultimo quartel do seculo XIX, na grande cidade de Portugal.

Em epístola a Madame de Jouarre

''Além disso, o proposito de pronunciar com perfeição linguas estrangeiras constitue uma lamentavel sabujice para com oestrangeiro. Ha ahi diante d’elle, como o desejo servil de não sermos nós mesmos, de nos fundirmos n’elle, no que elle tem demais seu, de mais proprio, o Vocabulo. ''

Em epístola a Madame S.

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